O que é preparação?
top of page
  • Foto do escritorHellen M. Amorim

O que é preparação?

Atualizado: 22 de fev.

Um guia completo para esclarecer o essencial trabalho do preparador


 


✦✦✦


Introdução


Imagine que você é um ceramista. Você está trabalhando em um grande vaso. Você o modelou por um certo tempo e ele já descansou. Há pouco tempo, você refinou sua forma. Você o lixou, deu algumas pinceladas gerais no fundo e o coloriu. Agora, é preciso cuidar dos últimos detalhes. Você precisa ver se tem algo fora do lugar que pode ser reparado e dar o arremate.


Pronto, você o fez! Ficou lindo!


Assim como um ceramista, o escritor é alguém que faz arte com as mãos. Escrever é como trabalhar e modelar o vaso. Preparar é como refinar a peça. Revisar é como reparar o que ficou aquém. Seguindo esses passos, o trabalho resultará na sua melhor versão possível.


É sobre essa intermediária e crucial etapa da produção de um texto que vamos conversar.


✦✦✦


1 O que é preparação?


O trabalho do preparador assemelha-se ao trabalho do editor de vídeos, que ficou bem conhecido em razão do crescimento exponencial dos vídeos profissionais na internet. O editor é o encarregado de receber um material audiovisual “cru” e de devolvê-lo o mais palatável possível. Assim, o público pode assistir a um vídeo atraente.


A preparação na escrita segue o mesmo princípio: o preparador é o responsável por aperfeiçoar um documento textual bruto. O autor entrega ao profissional a última versão de seu manuscrito e o preparador lhe devolve um texto mais agradável à leitura.


Portanto, diferente da revisão, que foca mais na superfície do texto, a preparação vai mais fundo e acrescenta o conteúdo como um alvo a ser melhorado.


Para evitar a confusão entre os dois serviços, trabalhamos com o seguinte conceito:


Preparação é o processo de aprimoramento de um manuscrito que passa tanto pela superfície quanto pela profundidade do texto. Assim, ela cuida da gramática, da ortografia, da pontuação, da digitação e da diagramação, bem como da fluidez, dos vícios de linguagem, das redundâncias, da adequação ao público-alvo, das incongruências, da verossimilhança, das falácias e da checagem de fatos.

Você pode publicar um texto que não tenha passado por essa avaliação, mas ela é extremamente recomendável, sobretudo se seu escrito for longo, como um livro ou um trabalho acadêmico.


Além disso, é preciso ter em mente que a função mais profunda do preparador equipara-se à de um conselheiro técnico. Todas as sugestões que ele faz passam pelo filtro de aceitação do autor. Um bom preparador faz interferências que visam aumentar a qualidade do texto. O autor, por sua vez, é livre para julgar se elas são válidas ou não. O importante é que essa troca seja mutuamente respeitosa.


✦✦✦


2 O que é preparado?


Na preparação, trabalhamos com os mesmos cinco parâmetros da revisão (gramática, ortografia, pontuação, digitação e composição gráfica) mais oito parâmetros (fluidez, vícios de linguagem, redundâncias, adequação ao público-alvo, incongruências, verossimilhança, falácias e checagem de fatos).


Para compreender os primeiros, por gentileza, leia o tópico 2 do artigo “O que é revisão?”. Aqui, vamos nos ater aos aspectos próprios do serviço de preparação.


2.1 Fluidez


Antes que qualquer processo para iniciar algum sujeito em aprender algo, faz-se preciso entender os antecedentes desse para a intervenção do examinador”.


Confuso, não? O que tem de errado com esse parágrafo? Ele não é fluido. Tem um resquício de ideia, mas só. Veja uma possibilidade de reescrita:


Antes de iniciar qualquer processo de aprendizagem, é essencial compreender os antecedentes do sujeito. Só assim o examinador poderá intervir de forma adequada”.


Agora sim. A ideia ficou mais compreensível porque a leitura foi facilitada.


A fluidez textual diz respeito à legibilidade, ou seja, ao quão acessível e agradável a informação escrita é para o leitor.


Logo, para fazer suas interferências, o preparador precisa estar atento aos aspectos que tornam a leitura do texto mais complicada e incômoda. Nesse caso, os principais fatores observados são:


  • Repetição de palavras: usar a mesma palavra muitas vezes ao longo do texto, como em “durante aquele dia, ele observava como o dia demorava para passar e pensava no que ia fazer no dia seguinte”.

  • Repetição de sufixos: usar o mesmo sufixo muitas vezes ao longo do texto, em especial o “mente” presente em advérbios de modo, como em “inicialmente, ele fazia seu trabalho profissionalmente, mas depois passou a fazê-lo desleixadamente”.

  • Desvios de vocabulário: usar uma palavra ou expressão no lugar da outra, seja porque são parecidas, como trocar “algoritmo” por “logaritmo”, ou por presumir que ela se encaixa no contexto, como dizer que uma inteligência artificial faz “sinapses” de modo literal, não em sentido metafórico.

  • Sentenças longas: usar sentenças que ocupam muitas linhas e reúnem muitas informações, como em “o problema da consciência, que tem sido tratado por filósofos desde a Antiguidade e por neurocientistas na atualidade, é extremamente complexo, pois envolve confusões conceituais, incertezas empíricas, interpretações ambíguas e conclusões equivocadas, o que gera muita controvérsia e a necessidade de mais estudos em todas as áreas do conhecimento afins”.

  • Construções ininteligíveis: usar sentenças ou parágrafos difíceis de entender ou que reúnem informações aleatórias, como em “a maioria dos problemas e das respostas têm soluções finitas. A base para essas soluções contém muitas das ambiguidades com que o homem condicional luta diariamente. Consequentemente, a maioria das soluções problemáticas são falíveis. Afortunadamente tudo mais falha; inversamente a esperança reside numa miríade de polêmicas”.

  • Notas de rodapé: usar informações ao longo do texto que poderiam estar em uma nota ou exagerar na quantidade de notas.


Nas repetições, o preparador exclui a palavra, quando possível, ou a substitui por um sinônimo. No desvio vocabular, ele troca a palavra ou, caso não a identifique, pergunta ao autor o que ele queria dizer. Nas sentenças mal estruturadas, é feita a adequação ou, caso não dê para entendê-las, solicita-se a reescrita ao autor. Nas notas de rodapé, ele pode inclui-las ou exclui-las.


Além disso, o preparador está atento às partes do texto que podem ser cortadas ou realocadas.


2.2 Vícios de linguagem


“Joana, confundindo o que tinha ouvido, ficou pensando que Pedro tinha levado o despertador que ela acabara de ajustar para que ela não acordasse. Ela, que estava se dedicando, achou que o que ele fez foi de propósito. Irritada, ficou gritando que o que todos queriam era ver ela se atrasando e recebendo bronca”.


Veja quantos “ando”, “endo”, “indo” e “que” aparecem nesse parágrafo!


Ele é ruim de ler porque está permeado por dois vícios de linguagem, o gerundismo (excesso no uso do gerúndio) e o queísmo (excesso no uso do “que”).


Vícios de linguagem são desvios da norma culta causados pelo uso inadequado de palavras ou expressões, os quais podem causar desconfortos ou desentendimentos na leitura. Embora sejam considerados erros, às vezes são empregados de forma intencional. Em outras, não ocorrem de propósito, mas não incomodam o autor quando ele fica ciente do que escreveu.


A cacofonia e a ambiguidade são exemplos de vícios de linguagem muito comuns. A primeira consiste no uso de palavras que, juntas, resultam em uma sonoridade desagradável, como em “ela tinha”, “vi ela” e “boca dela”. Já a segunda consiste no uso de palavras ou de expressões que, na construção da sentença e no contexto em que se encontram, geram duplo sentido, como em certo, vamos nos encontrar no banco” (qual banco? No prédio onde se efetuam as operações bancárias ou no banco da praça?).


Nesses casos, o preparador pode simplesmente marcar o vício e avisar ao autor da sua presença ou pode sugerir uma outra forma de escrever. No exemplo, o revisor poderia sugerir a seguinte mudança:


Joana, confusa com o que ouviu, pensou que Pedro levou o despertador recém-ajustado com o intuito de impedi-la de acordar a tempo. Ela, que estava se dedicando, achou que ele fez isso de propósito. Irritada, bradou que todos queriam vê-la atrasada e repreendida”.


Ainda há “que’s” e gerúndio, mas de um modo mais comedido. Repare que alguns verbos exigem o uso do “que” e a dedicação da personagem é contínua, está em andamento.


2.3 Redundâncias


“Subir para cima”, “descer para baixo”, “entrar para dentro”, “sair para fora”...


Você já conhece os clássicos da redundância, não é mesmo?


A redundância consiste na repetição de informações desnecessárias. É um vício de linguagem que tratamos em separado porque ele pode ser de dois tipos:


  • redundâncias de palavras: a repetição de palavras com o mesmo sentido; e

  • redundâncias de ideias: a repetição de ideias com o mesmo sentido.


O primeiro é fácil de notar em algumas situações, como nos exemplos acima, mas há repetições de palavras que têm uma camuflagem melhor, como em “você precisa encarar o problema de frente” e “corte o melão em duas metades iguais”. Elas exigem um olhar mais apurado do preparador, que deve exclui-las ou readequá-las.


Porém, ele precisa saber se está diante de uma redundância de palavras ou de um pleonasmo.


O pleonasmo é uma figura de linguagem que visa intensificar o sentido de uma frase por meio da repetição. Por ser intencional, não é visto como erro. É uma licença poética e, como tal, geralmente ocorre em poemas e outros textos literários.


Então, se um preparador estivesse analisando o “Mar Português”, de Fernando Pessoa, e se deparasse com a sentença “Ó mar salgado, quanto do teu sal são lágrimas de Portugal”, ele abriria um sorriso, depois uma caixa de comentários e escreveria: “Isso ficou muito bom!”. Veja, dizer que o mar é salgado é uma obviedade útil para fazer a comparação com as lágrimas. Esse pleonasmo resultou em uma frase linda.


A redundância de ideias, no entanto, é um pouco mais delicada, mas tão comprometedora quanto a de palavras. Veja o trecho a seguir:


Terra, planeta água. 70% da superfície terrestre é coberta por água. Porém, só 2% é de água potável. Essa pequena quantidade tem uma importância vital, pois sem ela não plantamos, não comemos, não bebemos, não respiramos, não vivemos. Logo, ela é fundamental para a nossa sobrevivência e existência. Sem ela, não somos nada”.


Prolixo, não?


Dizer a mesma coisa de formas diferentes torna a leitura cansativa. Se o seu texto é longo, é aceitável e, até mesmo, recomendável que você retome informações lançadas em capítulos anteriores e que são pertinentes ao capítulo que está escrevendo. Isso situa o leitor. Contudo, repetir ideias em parágrafos ou páginas muito próximos não é interessante.


O leitor quer um texto que ande para frente, não que ande em círculos. Ele deseja que cada capítulo lhe apresente algo novo e que as ideias antigas estejam bem amarradas, de modo que, a cada retorno, elas sejam úteis e pertinentes.


O preparador, portanto, fica atento a esse aspecto. O mais comum é que esse excesso de informações redundantes seja excluído, mas a sentença ou o parágrafo também podem ser reescritos com o fim de reduzir o desconforto da leitura.


2.4 Adequação ao público-alvo


Parágrafo que descreve a personalidade extrovertida de José, um adolescente de 15 anos, extraído de uma autobiografia destinada ao público infanto-juvenil:


Num horizonte de vivacidade e exuberância, desenha-se o perfil ímpar de João, um rapaz avesso às amarras da introspecção. Seu desfastio é deleitar-se na catarse coletiva dos encontros sociais sob o manto inefável da desinibição. Enlevado e vibrante, imbuído de um espírito inquebrantável e otimista, se insurge contra as sombras da melancolia, tornando-se a personificação mais veraz da alegria de viver”.

Não. Embora o texto esteja ok, não está pertinente. A linguagem é muito rebuscada para o fim pretendido, que é levar entretenimento para crianças e adolescentes.


Porém, se José fosse um jovem de 30 anos, que estivesse escrevendo sua autobiografia para um público mais culto, com um vocabulário mais abrangente, esse mesmo parágrafo poderia funcionar.


Tudo se resume à adequação ao público-alvo, ou seja, à capacidade do texto de atender às expectativas, aos interesses e ao perfil dos leitores aos quais se destina.


Assim, a atuação do preparador está no ajuste da linguagem e do estilo de escrita quando necessário.


Essa função é especialmente importante na preparação adaptativa, necessária nos casos de acadêmicos que desejam transformar seus trabalhos formais (dissertação ou tese) em obras de divulgação científica.


No TCC, na Dissertação ou na Tese, o público-alvo é a banca examinadora, composta por professores que dominam o tema e a linguagem técnica empregada para explicá-lo. Na obra de divulgação ocorre o contrário: os leitores geralmente não conhecem o assunto com tanta profundidade e não querem recorrer ao dicionário, a outras obras ou ao Google para compreendê-lo. É preciso que o mesmo conteúdo do trabalho acadêmico seja repassado de modo que a maioria das pessoas possa absorvê-lo sem grandes dificuldades.


2.5 Incongruências


Capítulo 1: Sofia tem 14 anos, lindos olhos verdes, mora na Guiana e é uma adolescente regular que está encarando os desafios do ensino médio. [A história anda...] Capítulo 7: Dois anos depois, Sofia se forma no curso de Arquitetura da Universidade do Porto. No dia da formatura, seus olhos azuis cintilavam mais do que o normal.


Espera, algo de errado não está certo! Em momento nenhum foi dito que Sofia era uma prodígio para se formar em um curso superior aos 16 anos. Aliás, ela não estava no ensino médio? E como ela foi parar em Portugal se a narrativa se passa na Guiana? E esses olhos azuis, não eram verdes?


O autor pode até ter feito alguns malabarismos para dar sentido à cadeia de eventos que culminou na formação de Sofia, mas os elementos espaço-temporais da história são contraditórios, assim como a descrição da personagem.


É função do preparador pegar essas incongruências no texto, ou seja, informações inconsistentes que tornam a narrativa confusa, desorganizada.


Embora o exemplo pareça exagerado, tais contradições são comuns. Se o autor de ficção não tiver uma boa organização dos componentes da sua história, ele pode se perder nas próprias lembranças. Se o autor de não ficção não fizer um bom esqueleto textual, ele pode se perder em conceitos e em exemplos.


2.6 Verossimilhança


José é um homem de 60 anos. Ele está passeando pela floresta quando é surpreendido por um urso de 300 kg. No ataque, as garras do animal dilaceram sua frágil pele. Gordura, músculo e ossos estão à mostra. Como se isso não bastasse, o urso fica em pé em seu tronco. O rompimento dos órgãos internos lhe dói na alma. Ele sangra por dentro. A dor é insuportável. Sem opção, José passa a noite no ambiente de temperatura negativa. Não há civilização à vista. No dia seguinte, o homem se levanta e segue seu rumo.


Como assim?! Em momento nenhum da narrativa é mencionado que José é um sobre-humano. Não faz sentido que as infecções dos ferimentos da pele, a hemorragia interna e o frio extremo não tenham sido suficientes para derrubar um homem idoso. Essa recuperação milagrosa da noite para o dia é inverossímil.


A verossimilhança, portanto, trata dos aspectos que fazem seu texto ser credível, que fazem o leitor tomar como verdadeiras as informações nele apresentadas.


Na Psicologia da Crença, área que estudo com entusiasmo, foi descoberto um paradoxo formidável: o ser humano ama violações das leis da natureza ao mesmo tempo em que ama o sentido e a coerência. Isso acontece porque crenças nada mais são do que premissas que compõem uma grande narrativa. Se as premissas se encaixam na narrativa, é um prazer. Se não, a dor vem (sim, isso é fisiologicamente detectável).


Então, não importa se sua história se passa em um mundo medieval com fadas e lobisomens ou em um planeta habitável com espécies animais tiradas da sua cabeça. Se você amarra os nós do que é possível ou não nesse mundo fictício, a verossimilhança vai estar lá. Se você respeita as premissas que impôs à sua narrativa, as pessoas irão abraçá-la.


O mesmo é válido para a não ficção. Porém, nesse caso, você deve obedecer às premissas referentes ao aspecto do mundo real que você está tratando. Isso tem a ver com a checagem de fatos e as falácias, que vamos tratar mais adiante.


É papel do preparador verificar a verossimilhança do texto e garantir que a coerência interna se estabeleça. Se notar que algo não faz sentido, ele irá avisar. Isso é muito precioso, principalmente em textos longos ou que levaram anos para ficarem prontos, pois é muito fácil se perder nas próprias regras ou esquecê-las.


E, observe, problemas com a verossimilhança vão além das meras incongruências, que causam mais confusão do que incredulidade, e podem ser facilmente resolvidas.


2.7 Falácias


E se alguém lhe dissesse que, se você se interessa pela biologia do comportamento humano, você automaticamente se alia às ideias do racismo científico?


Então. Uma coisa não tem nada a ver com a outra. Porém, para muitas pessoas, esse é um argumento convincente. Isso porque, no passado, utilizaram a teoria da evolução para justificar a separação de grupos humanos em “superiores” e “inferiores” – o chamado “darwinismo social”. Logo, elas pensam: “quem usa a biologia para tentar entender o ser humano concorda com isso! Que ideia asquerosa!”.


Temos, nesse caso, um forte apelo à emoção (quem quer ser visto como um racista burro e desumano?), um espantalho (distorcer os objetos e objetivos da Psicobiologia, da Psicologia Evolucionista e das Neurociências para atacá-las com mais facilidade) e uma falsa generalização (assumir que, porque alguém usou o conhecimento biológico para o mal, todos os que o estudam fazem o mesmo).


Tudo isso é falacioso.


Uma falácia é um tipo de raciocínio incorreto, mas que é psicologicamente persuasivo. Logo, é um argumento que parece certo, mas que, quando examinado cuidadosamente, não o é.


Como seu texto precisa ter credibilidade, especialmente se for um livro de não ficção ou um trabalho acadêmico, é preciso estar atento a eventuais raciocínios falaciosos. Porém, nem sempre somos capazes de reconhecer nossos próprios deslizes argumentativos. E é aqui que o preparador entra.


No entanto, ele não precisa ser especialista em Lógica ou saber de cor a numerosa lista de falácias. Seu papel é ter a sensibilidade de ler a sentença ou o parágrafo e perceber que está diante de um raciocínio equivocado, o qual pode ser reescrito, substituído ou simplesmente excluído.


2.8 Checagem de fatos


Em 2012, o então candidato à prefeitura de São Paulo, José Serra, disse, em uma entrevista, que o nome oficial do Brasil era “Estados Unidos do Brasil”. Ele estaria certo, se a entrevista fosse em 1912. Desde 1967, o nome do nosso país é “República Federativa do Brasil”.


Como se vê, esse é um erro de fato. O político se confundiu sobre algo que é tido como certo em determinada época – no caso, de 1967 até os dias atuais.

Os erros de fato podem ser enquadrados em:


  • erros de fatos sociais, que se referem a fatos socialmente construídos pelo ser humano e definidos como válidos em determinada época e local, como no exemplo acima;

  • erros de fatos científicos, que se referem a fatos descobertos pela ciência, como a existência de água em Marte, ou a fatos que são consenso científico, como o aquecimento global; e,

  • erros de conceitos, que se referem a definições feitas por filósofos e cientistas e que possuem um status de permanência, como os conceitos de “eudaimonia” (qualquer doutrina que assuma a felicidade como princípio e fundamento da vida moral) e de “cromossomo” (uma estrutura no núcleo celular, que consiste em DNA com várias proteínas ligadas a ele, especialmente as histonas).


Quando o autor se equivoca nesses aspectos, o preparador deve ter um olhar atento e apontá-los. É sua função checar os fatos.


Alguns erros podem ser meras falhas de atenção ou de digitação, como errar datas, nomes próprios ou nomes de eventos históricos. Eles são simples de resolver, exigem apenas uma reescrita rápida.


Outros, porém, podem comprometer a credibilidade do texto, assim como as falácias o fazem. Nesse caso, o preparador precisa conversar com o autor para entender o que ele quis dizer, se ele realmente se equivocou ou se ele está disposto a manter sua posição sobre o que escreveu.


É certo que o preparador não é onisciente como o Google para identificar todos os erros de fato que um texto pode apresentar. Então, quando se trata de não ficção, é importante encontrar um preparador que conheça o básico do assunto da sua área ou que seja um pesquisador interessado – a curiosidade, aliás, é uma qualidade que se espera desse profissional.


✦✦✦


3 Qual é a importância da preparação?


Vou te apresentar dois autores: João e Maria.


  • João é um economista que tem uma ideia brilhante para resolver o problema do orçamento doméstico de famílias endividadas. Ela foi cuidadosamente construída com base em argumentos legítimos e muitas pesquisas científicas reforçam sua validade.

  • Maria é uma leiga no assunto, mas que viu seu irmão vencer o endividamento. Com base em suas observações, criou uma ideia para resolver o problema do orçamento doméstico. No entanto, essa ideia já foi apresentada antes, passou pelo escrutínio de especialistas e se mostrou ineficiente e defasada.


João e Maria escrevem seus respectivos livros e os lançam no mercado. João vendeu menos do que gostaria e recebeu mais críticas do que esperava. Maria teve que fazer mais tiragens, pois o livro foi elogiado e os primeiros impressos se esgotaram em poucas semanas.


João está frustrado, principalmente quando compara seu trabalho ao de Maria. “Minha ideia dá resultado, a dela é um embuste!”, ele diz, inconformado. “Por que as pessoas confiam no trabalho dela e não no meu?”, ele se pergunta.


E a resposta é: o livro de Maria foi bem preparado, o de João não. O manuscrito de Maria foi refinado, os equívocos que ela cometeu foram excluídos ou contornados e a leitura está fluida. O de Pedro, não.


É óbvio que o sucesso de um livro depende de inúmeras variáveis, muitas das quais são impossíveis de prever, mas é inegável que uma boa preparação é uma vantagem para o autor.


O preparador é um intermediário entre o autor e o público. Ele é, antes de tudo, um leitor atento. Por isso, suas interferências tornam o texto mais adequado e agradável ao consumidor final. A legibilidade e a qualidade do conteúdo são fatores determinantes para que o leitor abandone um livro ou siga com ele até o fim.


Embora as ideias do autor sejam primordiais para a excelência de um texto, quando a obra chega nas mãos do leitor, o gosto bom da leitura tem uma boa pitada de preparação. Esse é o ingrediente secreto que faz toda a diferença.


Diferente dos erros superficiais, que são mais visíveis e fáceis de resolver, a preparação se ocupa de equívocos sutis que comprometem não apenas o entendimento, mas o interesse pelo texto. Trata-se de um trabalho de sensibilidade que pode salvar um manuscrito.


Se você vai publicar um texto pequeno, mais pessoal, em uma plataforma informal, talvez ele não precise de preparação. E, se precisar, você é capaz de fazê-la. Basta deixar seu texto descansando por algumas horas ou por alguns dias e depois voltar a ele com um olhar mais crítico. Se estiver inseguro, peça para que alguém o leia e lhe dê um feedback.


Agora, se você vai publicar um texto importante, como um livro ou um trabalho acadêmico, contrate um profissional. Você não vai se arrepender.


✦✦✦


4 Quem é o preparador?


O preparador é muito associado a um profissional formado em Letras ou em Jornalismo, já que são cursos voltados à comunicação e à linguagem. Mas, na verdade, ele pode ser qualquer pessoa que domina as técnicas de escrita e tem um olhar crítico, apurado e respeitoso sobre textos.


Esse domínio geralmente vem com o combo “experiência-profissionalização-atualização”. Eu, por exemplo, sou uma leitora e uma escritora praticante desde pequena. Logo, sou capaz de reconhecer uma boa escrita. Além disso, passei por processos de capacitação na área e tenho materiais para me auxiliar nos trabalhos concretos – além da boa e velha aba do Google para me socorrer com qualquer dúvida.


Essa autonomia para exercer a profissão de preparador acontece porque ela não é regulamentada. Assim, qualquer pessoa pode ser um prestador de serviço de preparação. Basta ser comprometido, estudioso, atualizado e entregar um bom trabalho.


✦✦✦


5 Quanto custa uma preparação?


Como visto, há diversos detalhes a serem conferidos, o que exige muita atenção e comprometimento do profissional. A preparação é um trabalho delicado. Por entender que não é infalível, um bom preparador não lerá o texto uma única vez. Ele adotará um método de preparação por etapas que lhe permitirá analisar todos os parâmetros com calma.


Essa dedicação tem um custo. Porém, por ser uma prestação de serviços, cada preparador dará o preço que acha justo para seu trabalho. Como em muitos contextos, há o risco de o barato sair caro.


Embora possa ser orçado por palavras, o mais comum é que o preço seja calculado a partir da quantidade de laudas. O tamanho de uma lauda geralmente varia entre 1.200 e 2.200 caracteres com espaço. Aqui, na Merida Escrita, trabalhamos com 2.000 porque é um número que se aproxima da lauda literária, utilizada por editoras.


Em geral, por ser um serviço profundo, custa mais do que a revisão.

Pode ser um trabalho isolado, mas é comum que ele esteja associado a outros, como o serviço de formatação, por exemplo. Nesse caso, você paga pelo conjunto e pode ter um desconto no preço.


✦✦✦


Encerramento


Parabéns! Você aumentou seu leque de conhecimentos ao compreender os pormenores da preparação.


Se você é autor de um livro ou de um trabalho acadêmico e percebeu que precisa desse serviço, considere fazer um projeto conosco! Estamos aqui para colaborar com você. Pode nos chamar! Juntos, vamos entregar a melhor versão da sua obra intelectual.


Obrigada!


Até mais!

bottom of page