O que é revisão?
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  • Foto do escritorHellen M. Amorim

O que é revisão?

Atualizado: 22 de fev.

Um guia completo para esclarecer o indispensável trabalho do revisor


 


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Introdução


Imagine que você é um ceramista. Você está trabalhando em um grande vaso. Você o modelou por um certo tempo e ele já descansou. Há pouco tempo, você refinou sua forma. Você o lixou, deu algumas pinceladas gerais no fundo e o coloriu. Agora, é preciso cuidar dos últimos detalhes. Você precisa ver se tem algo fora do lugar que pode ser reparado e dar o arremate.


Pronto, você o fez! Ficou lindo!


Assim como um ceramista, o escritor é alguém que faz arte com as mãos. Escrever é como trabalhar e modelar o vaso. Preparar é como refinar a peça. Revisar é como reparar o que ficou aquém. Seguindo esses passos, o trabalho resultará na sua melhor versão possível.


É sobre essa última e indispensável etapa da produção de um texto que vamos conversar.


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1 O que é revisão?


Se você fizer uma busca, verá que há muitos conceitos abrangentes de revisão. É possível encontrar, por exemplo, explicações que colocam a revisão em paridade com a preparação, que foca mais no conteúdo do que na aparência do texto.


Para evitar essa confusão, trabalhamos com um conceito mais restrito:


Revisão é o processo de correção dos erros de superfície da escrita, como erros gramaticais, erros ortográficos, erros de pontuação, erros de digitação e erros de diagramação.

Embora a preparação seja extremamente recomendável, não é essencial. Já a revisão, sim. Se você é o autor, pode não querer que mexam no conteúdo do seu texto, mas é preciso que ele esteja de acordo com as formalidades da língua portuguesa – sobretudo se o seu objetivo for a publicação ou a submissão para uma banca avaliadora.


É certo que, se o revisor observar que uma sentença ou um parágrafo podem ser melhorados, ele ainda pode fazer sugestões a você. No entanto, segundo a definição apresentada, esse seria um bônus.


Além disso, é importante destacar que, a depender do objetivo do autor, pode haver erros conscientes no texto. Eles geralmente são justificados por peculiaridades de personagens, por necessidades em diálogos ou por licença poética. O revisor deve respeitar isso. Porém, a maior parte do texto deve seguir a norma padrão.


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2 O que é revisado?


Na revisão, trabalhamos com cinco parâmetros: gramática, ortografia, pontuação, digitação e composição gráfica.


2.1 Gramática


Você já concordou ou discordou de algo em gênero, número e grau? Então, essa expressão vem dos critérios de concordância nominal, que, por sua vez, fazem parte da gramática.


A Gramática Normativa é o conjunto de regras e princípios que regem o funcionamento de uma língua em termos de estrutura, seja da palavra em si (morfologia), seja da sentença em que as palavras se combinam (sintaxe). Ela serve para padronizar a linguagem e, assim, garantir a compreensão mútua entre os leitores.


Nesse caso, os principais fatores revisados são:


  • Concordância verbal e concordância nominal

  • Regência verbal e regência nominal

  • Colocação pronominal (uso dos pronomes átonos – “me”, “nos”, “te”, “vos”, “se”, “o(s)”, “a(s)”, “lhe(s)” – em relação ao verbo)

  • Uso dos pronomes demonstrativos (“esse”, “este”, “aquele”)

  • Uso da crase (“à”)

  • Uso dos porquês (“por que”, “porque”, “por quê”, “porquê”)


A seguinte frase exemplifica alguns dos erros gramaticais: “O impacto dos cortes não foram sentidos por que o ano acabou de começar. Ainda a muito para acontecer”.


A concordância está equivocada, o uso do porquê não é o adequado e um verbo foi trocado por um artigo.


Após a revisão, a frase fica assim: “O impacto dos cortes não foi sentido porque o ano acabou de começar. Ainda muito para acontecer”.


2.2 Ortografia


Quem nunca recebeu um “oi, tudo bem com tigo?”? Pois é, esse é um erro ortográfico.


Como o nome sugere, a Ortografia refere-se à análise da “grafia correta”. É uma área da Gramática, mas, como é um erro bastante específico, o examinamos em separado.


Ele acontece quando o autor acredita que uma palavra se escreve de um jeito, mas se escreve de outro, como em: “A chícara beje caiu e ela ficou paralizada”.

O correto é: “A xícara bege caiu e ela ficou paralisada”.


Observe que são erros que podem passar despercebidos quando se escreve rápido.


O erro de ortografia também ocorre quando o autor sabe a grafia correta da palavra, mas erra na hora de escolher onde usá-la, como em: “Aquele cheiro me levou a uma viajem ao passado”.


O correto é: “Aquele cheiro me levou a uma viagem ao passado”. Embora “viajem” seja uma grafia existente, ela não cabe nessa frase, pois é um verbo, não um substantivo. É outro errinho fácil de escapar. E, pior, o corretor automático não o pega.


Além disso, quando se trata de ortografia, observam-se também o uso do hífen e a acentuação, pois dizem respeito à forma da palavra.


2.3 Pontuação


“Que dia lindo!”, “que dia lindo...”, “que dia lindo?”, “que dia lindo”. Nossa, quantas reações em relação ao mesmo dia! Temos entusiasmo, desânimo, dúvida e sarcasmo.


A Pontuação também é uma área da Gramática, mas, como você pode perceber, ela tem um papel essencial na hora de demonstrar emoções e indicar o ritmo, a entoação e as pausas nas falas.


Os sinais de pontuação têm um notável poder. Um simples ponto de exclamação (!), por exemplo, pode dar vida à sua sentença ou fazê-la parecer exagerada. As reticências (...), por outro lado, podem indicar a hesitação de um personagem, mas podem indicar a insegurança de um autor de não ficção.


E o que dizer do uso da vírgula? A regra gramatical mais básica, que é “não separar sujeito de verbo”, acontece com certa frequência. Às vezes, um “Sofia, sorriu” sai sem querer. É desculpável, mas é errado.


2.4 Digitação


E quando você quer dizer “Puts, olha isso!”, mas sai um “Puta, olha isso!”. Do nada, uma simples sugestão se transforma em uma ofensa inesperada. E tudo porque o “a” e o “s” estão próximos no teclado.


É muito comum que palavras sejam escritas erradas porque o escritor digitou uma letra no lugar da outra. Alguns erros saltam aos olhos, como em “cachorrp” ou “smor”.


Outros, porém, passam despercebidos caso as trocas das letras gerem duas palavras existentes na língua, como quando você quer dizer “que almofada fofa!”, mas digita “que almofada foda!”. Em uma fração de segundos, você passa de uma característica material para um elogio abstrato só porque o “f” e o “d” são vizinhos de teclado.


Assim como os erros de ortografia, eles são muito perigosos pois os corretores automáticos não os detectam. Eles podem arruinar o sentido da sua frase.


2.5 Composição gráfica


2.5.1 Composição gráfica em geral


Sabe aquela sensação de olhar para um texto, pensar que algo de errado não está certo e, ainda assim, não saber o que é?


A frase acima está escrita com diferentes tamanhos de fontes. Há, portanto, uma falta de padrão que precisa ser corrigida para que o texto fique confortável para a leitura.


Ao diagramar um texto, é preciso estar atento à fonte, às imagens, às tabelas, às margens, à paginação e aos títulos e subtítulos. Você deve cuidar de elementos como tipografias, tamanhos, destaques, cores, alinhamentos e espaçamentos. Diante de tantas coisas, erros vão acontecer e precisarão ser corrigidos.


Mas é importante não confundir essa função do revisor com a do formatador.


Ao escrever um livro ou um texto acadêmico, você pode contratar um profissional para formatar seu texto do zero. Ele irá adequá-lo às normas exigidas por você (caso seja um autor independente), pela editora ou pela instituição de ensino.


O revisor não faz isso! No caso, ele apenas vai revisar a composição gráfica do documento textual. Ele vai procurar eventuais erros superficiais para que o texto fique ajustado.


2.5.2 Composição gráfica editorial


A sensação de desconforto também pode ocorrer quando você está lendo um livro e... “Tá estranho”. O parágrafo está bem escrito, a gramática, a ortografia e a pontuação estão corretas, mas... “Sei lá”.


Esse incômodo provavelmente tem a ver com o design da página. Embora seja um documento textual, o livro tem suas particularidades gráficas. Veja a imagem abaixo:


Parte de um texto mostrando o final e início de páginas

O que está fora do lugar?


Isso mesmo, a linha solitária no fim da página. No meio editorial, a primeira linha de um parágrafo que começa nesse lugar é denominada “órfã”.


O problema, por sua vez, pode estar na linha solitária no início da página, a “viúva”, ou no resto de palavra que sobra no fim de um parágrafo por causa de uma separação silábica, a “forca”.


Pode estar, também, na repetição de hifens consecutivos no mesmo parágrafo, nos “caminhos de ratos” no meio do parágrafo (linhas brancas que, visualmente, fazem um “zigue-zague”) ou nos “pasteis” (letras, sílabas ou palavras invertidas). Enfim, a lista de erros de composição gráfica editorial é grande.


O responsável por encontrar esses erros e corrigi-los também é um revisor: o revisor de provas. A revisão de provas é uma das últimas etapas da produção do livro.


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3 Qual é a importância da revisão?


Ao falar, temos muitos recursos para auxiliar nosso entendimento: expressões faciais e corporais que se harmonizam com as ondas sonoras que emanam de nossas bocas e um contexto social bem estabelecido.


Ao escrever, no entanto, temos um trabalho mais difícil para sermos bem compreendidos. Sozinhos, letras, palavras, números e outros sinais gráficos são apenas registros inexpressivos. O que lhes dá vida e faz o leitor ser parte integrante da comunicação é, justamente, a forma como estão combinados.

Assim, a maneira como é feito o registro escrito pode ter um impacto significativo no modo como o autor será percebido.


Veja este exemplo: “Vamos comer gente”


Muito provavelmente, a pessoa que escreve essa frase está convidando determinadas pessoas para fazer uma refeição. Se ela falasse, todo mundo entenderia. Mas, observe, como está escrita, essa sentença apresenta um triplo sentido! O primeiro é esse: ela está chamando alguéns para ingerir alimentos. Porém, os dois outros são censuráveis: ou a frase tem uma conotação canibal, ou ela tem uma conotação sexual.


Uma vírgula resolveria o problema.


Esse é um exemplo modesto, mas o princípio se expande para sentenças de quaisquer tamanhos. Os erros superficiais vão muito além de uma deselegância que afeta os olhos do leitor mais exigente. Eles realmente comprometem o entendimento.


Além disso, como visto, alguns erros simplesmente passam despercebidos pelos corretores automáticos e só um olhar externo é capaz de detectá-los.


Esses são perigos que podem ser contornados com o trabalho de um bom revisor. Logo, a importância da revisão é inquestionável.


Se você vai publicar um texto pequeno, mais pessoal, em uma plataforma informal, você é capaz de fazer a sua própria revisão. Basta deixar seu texto descansando por algumas horas ou por alguns dias e depois voltar a ele com um olhar mais apurado. Se tiver dúvidas, pergunte para alguém ou para o onisciente Google.


Agora, se você vai publicar um texto importante, como um livro ou um trabalho acadêmico, contrate um profissional. Você não vai se arrepender.


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4 Quem é o revisor?


O revisor é muito associado a um profissional formado em Letras ou em Jornalismo, já que são cursos voltados à comunicação e à linguagem. Mas, na verdade, ele pode ser qualquer pessoa que domina a norma padrão da língua portuguesa.


Esse domínio geralmente vem com o combo “experiência-profissionalização-atualização”. Eu, por exemplo, sou uma leitora e uma escritora praticante desde pequena. Logo, conheço muito bem minha língua materna. Além disso, passei por processos de capacitação na área e tenho materiais para me auxiliar nos trabalhos concretos – além da boa e velha aba do Google para me socorrer com qualquer dúvida.


Essa autonomia para exercer a profissão de revisor acontece porque ela não é regulamentada. Assim, qualquer pessoa pode ser um prestador de serviço de revisão. Basta ser comprometido, estudioso, atualizado e entregar um bom trabalho.


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5 Quanto custa uma revisão?


Como visto, há diversos detalhes a serem conferidos, o que exige muita atenção e comprometimento do profissional. A revisão é um trabalho delicado. Por entender que não é infalível, um bom revisor não lerá o texto uma única vez. Ele adotará um método de revisão por etapas que lhe permitirá ver, praticamente, todos os erros com calma.


Essa dedicação tem um custo. Porém, por ser uma prestação de serviços, cada revisor dará o preço que considera justo para seu trabalho. Como em muitos contextos, há o risco de o barato sair caro.


Embora possa ser orçado por palavras, o mais comum é que o preço seja calculado a partir da quantidade de laudas. O tamanho de uma lauda geralmente varia entre 1.200 e 2.200 caracteres com espaço. Aqui, na Merida Escrita, trabalhamos com 2.000 porque é um número que se aproxima da lauda literária, utilizada por editoras.


Em geral, é o trabalho mais barato que você vai encontrar quando está lidando com um manuscrito.


Trata-se de um trabalho isolado. No entanto, você pode encontrá-lo associado a outros, como os serviços de preparação e de formatação, por exemplo. Nesse caso, você paga pelo conjunto e pode ter um desconto no preço.


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Encerramento


Parabéns! Você aumentou seu leque de conhecimentos ao compreender os pormenores da revisão.


Se você é escritor(a) de um livro ou de um trabalho acadêmico e percebeu que precisa desse serviço, considere fazer um projeto conosco! Estamos aqui para colaborar com você. Pode nos chamar! Juntos, vamos entregar a melhor versão da sua obra intelectual.


Obrigada!


Até mais!

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